sou
um bocadito masoquista no que toca à nostalgia
mas
acho que faz parte da cura
Revejo-me nestas palavras como se fossem minhas. Nestas
palavras de um amigo que outrora o descreveram tão bem.
Sou assim, sempre fui. Nostálgica. A olhar para o passado
como se o quisesse viver todo de novo. E fico triste. Mas massacro-me, numa
atitude mesmo masoquista. Sempre fui assim, e custa-me ser de outra maneira.
Como se o presente até magoasse mais do que a própria nostalgia, do que a
própria saudade.
É um processo de interiorização, que leva o seu tempo.
Preciso dele para avançar, preciso dele para a cura, para crescer saudável.
Pensando bem, porque será que gosto tanto de olhar para
trás? Porque será que tenho esta necessidade de ter saudades? Porque é que me
sinto bem a projectar um futuro baseado no passado, no que poderia ter sido o
passado?
Não vivo plenamente feliz assim, sempre a olhar para trás,
sempre com saudades. Como se o presente não me preenchesse de uma forma
completa... Se calhar preciso de mais realização. Tenho esperança nesse ideal:
Amor e Realização. Chegarei lá? Um dia... Como se faz?
E mais uma vez massacro-me com a ideia de que se calhar não
fui tomando as decisões certas até aqui. Se calhar estaria mais realizada,
hoje, se tivesse optado por outras coisas, por outras pessoas, ontem. Tenho a
sensação, agora, de ter caminhado, até hoje, sempre pelo caminho do lado:
aquele que estava feito em paralelo ao que realmente devia estar a pisar. Às
vezes tenho saudades desse caminho que nunca cheguei a percorrer. È possível
isso? É saudade, ou é arrependimento?
Passo por todas estas sensações, vivo tudo o que já vivi, em
memórias, em cartas, em fotografias... Como se precisasse disso para me pôr à
prova. Como se precisasse disso para a cura, para construir, para projectar o
futuro.
Mas estes são momentos duros... De nostalgia, de saudade.
Conforta-me só a certeza que estou, hoje, a viver momentos que me trarão
saudade amanha. Se assim é, vivo!
Sou assim masoquista, no que toca à nostalgia. Mas preciso
disso para viver. Porque essa sou eu. E é maravilhoso ser eu! Eu que vivi tudo
do que tenho saudades.
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