quinta-feira, julho 16, 2009

Eras tu... o mesmo!

Eram 2:02 da madrugada quando acordei com o vibrar impaciente do meu telemóvel. Consegui ver que eras tu, e atendi ainda meio confusa e perdida.

- Estavas a dormir?
- Sim...

- É que descobri a prenda de anos ideal para ti!

- Então?
- Vamos ouvir Abrunhosa, de novo, juntos!

Cantaste "como uma ilha" de principio ao fim. E ouvi-te enquanto tentava perceber se as lágrimas que escorriam pela cara eram de felicidade, tristeza ou revolta.
Podia dizer que parecia que tínhamos parado no tempo, e estávamos a ter uma conversa como sempre tivemos... Mas estaria a mentir! Porque sentia-me com "um pé atrás", sem saber muito bem aquilo que estava a sentir...

Durante quase duas horas fui o mais sincera que consegui. Baixei a guarda, como tantas vezes já o tinha feito contigo... Abri o coração e a alma! Tentei perceber o porquê de tantas coisas... Coisas que nem tu sabes explicar!
Quis saber o que sentes, e o que é feito daquele que conheci em tempos... Aquele que de vez enquando aparece, mas tantas vezes desaparece sem explicação, tantas vezes magoa e dá lugar ao "novo".

Não gosto do novo! É pessimista, cruel. Não acredita no amor nem no futuro perfeito. Não quer ter responsabilidades, nem promete nada. É instável e triste. Diz que não tem amigos e que se morresse quase ninguém ia ao seu funeral, porque pensa que não marcou a vida de muita gente. É parvo, completamente inconsciente! Sem noção alguma daquilo que fez até hoje, sem qualquer presença real no hoje, sem nenhuma ânsia de viver o futuro!

O Novo deixa que o Velho apareça de vez em quando... Nuns flashes de lucidez! Tem saudades do passado e dos amigos. Gostaria de voltar ao passado, mas tem sonhos do futuro. O Velho não gosta de magoar os outros e pede desculpa, como se quisesse que desculpássemos o Novo. O Velho não consegue perceber como é que se tornou neste de agora...

Com o Velho consigo conversar, de tudo. A Razão diz-me para não confiar, mas não sou capaz de evitar falar tudo o que a Emoção quer dizer. E tu ouves, com medo, arrependimento, tristeza... Como se fosses a pior pessoa do mundo e não merecesses aquilo que digo e faço. E eu sei que no fundo tu ainda és o bom amigo que sempre foste...

- Eu poderia ter sido mais que teu amigo...
- Eram outros tempos! Outras idades, outras vontades... Não queiras que me sinta culpada por aquilo que és hoje... Arrependo-me? Sim, mas só agora que sei o que sei hoje! E felizmente o arrependimento não mata...

- Não mata mas mói...

- Mói, é verdade! Mas é isso que nos faz crescer. Estar arrependido é uma vantagem! Significa que aprendemos, que vamos continuar a aprender!

Em quase duas horas ao telefone, ouvimos musica, cantaste, rim-me, chorei... Voltei atrás mas não tive vontade de ficar lá, porque a realidade é mesmo diferente! Eu sou feliz aqui, neste agora!
Fui feliz no passado? Fui! Foram bons tempos? Foram! Gostava que tivesses sido sempre uma parte activa na minha vida? Sem duvida que sim! Mas não dependeu só de mim...

- Porque é que deixaste de me falar?
- Não sei... Não sei o que se passa, ou passou, mas afastei toda a gente que gostava de mim...

- Porque?

- Não sei... Como não sei como ainda continuas a falar comigo! Não mereces o que te faço!

- Pois não! Mas devo ter um lado masoquista...

- E apareces sempre que estou a precisar... Não sei como fazes...

- Estás enganado! Eu não aparecia, porque nunca cheguei a desaparecer. E quando tentei alguma comunicação não era porque tu precisavas... Na verdade eu é que precisava de ti!


E quase duas horas não chegaram para perceber o que aconteceu ao Velho. Nem se ele um dia vai voltar... Com sonhos e projectos!




- Até breve!
- Será?
- Até breve! Ficas bem?

- Não...
- Diz que ficas bem...

- Não te vou mentir! Não fico bem, mas isto passa-me. Passou sempre!

- Até breve então!

- Até breve! Quando o Velho voltar!

1 comentário:

tafg disse...

http://ladospositivos.blogspot.com/2009/07/passamos-tanto-tempo-das-nossas-vidas.html

parte da mensagem ajusta-se a esta estória...